Línguas românicas
As línguas românicas, também conhecidas como línguas neolatinas, latinas, ou colectivamente como romance ou romanço, são idiomas que integram o vasto conjunto das línguas indo-europeias que se originaram da evolução do latim, principalmente do latim vulgar, falado pelas classes mais populares.
Atualmente, essas línguas são representadas pelos seguintes idiomas mais conhecidos e mais falados no mundo: o português, o castelhano (também conhecido como espanhol), o italiano, o francês e o romeno. Há, também, uma grande quantidade de idiomas usados por grupos minoritários de falantes, como:
- nas diferentes regiões da Espanha, onde são falados o catalão (que tem o valenciano como dialeto), o aragonês, o galego, o asturiano e o leonês;
- em Portugal, onde é falado o mirandês;
- nas diferentes regiões da Itália, onde são falados o lombardo, o vêneto, o lígure, o siciliano, o piemontês, o napolitano (com as suas variações dialetais) e o sardo;
- no sul da França, onde são falados o occitano (que tem o provençal e o gascão como dialetos), o franco-provençal e outras línguas dialetais derivadas do próprio idioma (como o picardo, o Pictavo-sântone e o normando) e o corso;
- e na Suíça, onde é falado o romanche.
No extremo norte da França e no sul da Bélgica, são falados dois idiomas também românicos: o valão e o picardo. O dalmático, falado na antiga Dalmácia, na região dos Bálcãs, e o rético, falado na Récia, antiga província do Império Romano localizada ao norte da Itália, são línguas românicas atualmente extintas (ver: Romania submersa). O rético derivou as chamadas línguas reto-românicas (dentre as quais se inclui o romanche) faladas na Suíça e no norte da Itália.
História
As línguas românicas são a continuação do latim vulgar, o dialeto popular e informal do latim falado por várias camadas da população romana, que se distinguia da forma clássica da língua falada pelas classes superiores romanas, a forma em que a língua era geralmente escrita.
Entre 350 a.C. e 150 d.C, a expansão do Império, juntamente com as suas políticas administrativas e educacionais, fez com que a língua latina fosse a dominante na parte continental da Europa Ocidental, além de fazer com que a língua fizesse contato com as línguas das regiões. O latim exerceu também uma forte influência noutros pontos geográficos, isto é, no sudeste da Inglaterra, na província romana da África e na zona dos Bálcãs ao norte da Linha Jireček.

Durante o declínio do Império Romano do Ocidente, e após a sua fragmentação e consequente colapso no século V, variedades do latim começaram a surgir em cada local de forma acelerada, finalmente evoluindo cada qual para um continuum de diferentes tipologias. Os impérios ultramarinos estabelecidos por Portugal, Espanha, França, Bélgica e Itália do século XV em diante espalharam as suas respectivas línguas por outros continentes, de tal forma que cerca de 70% de todos os falantes de línguas românicas vivem hoje fora da Europa.

Apesar das influências de línguas pré-romanas e das invasões, a fonologia, morfologia, léxico e sintaxe de todas as línguas românicas são predominantemente uma evolução do latim vulgar. Em particular, com apenas uma ou duas exceções, as línguas românicas perderam o sistema de declinação presente no latim e, como resultado, têm estrutura de frase SVO (Substantivo – Verbo – Objeto) e fazem amplo uso de preposições.

Dados
Há 1,2 bilhões de pessoas que falam alguma língua românica no mundo, o que faz esse ramo ter o maior número de falantes da família indo-europeia, à frente do ramo germânico, que possui mais de 730 milhões de falantes.
A lingua que possui um registro mais antigo que se pode diferenciar do latim vulgar é a francesa, com Juramentos de Estrasburgo, do ano de 842, seguida pela italiana com o Placiti Cassinesi de 860, ainda com bastantes diferenças para o italiano atual mas facilmente compreensível. A portuguesa com Carta de Doação à Igreja de Sozello de 870, porém devido ao fato de o documento ser uma cópia e o original ter sido perdido, só é reconhecido um documento de 1175 como o primero. As Glosas Emilianenses são consideradas o primeiro documento em castelhano, datado do final do século X. O romeno foi atestado pela primeira vez na Carta de Neacșu de 1521 escrita em alfabeto cirílico que só deixou de ser usado no século XIX.
Nome
O termo "românico" vem do advérbio do latim vulgar romanice, derivado do latim formal Romanicus: por exemplo, na expressão Romanice Loqui, "falar em Românico" (isto é, no latim vernáculo), contrastando com Latine Loqui, "falar em língua Latina" (em latim medieval, a versão conservadora da língua utilizada na escrita e contextos formais ou como língua franca), e com Barbarice Loqui, "falar em Bárbaro" (as línguas não latinas dos povos que conquistaram o Império Romano). A partir deste advérbio se originou o substantivo românico, que foi aplicado inicialmente a qualquer coisa escrita em românico, ou no vernáculo romano.
A palavra "romântico" com o sentido moderno de "romance" ou amor tem a mesma origem. Enquanto a literatura medieval da Europa Ocidental era escrita normalmente em latim, os contos populares, muitas vezes centrados no amor, foram compostos no vernáculo, o qual foi chamado "romântico" (românico).
Distribuição geográfica
São faladas em várias regiões da Europa, nas Américas (América Latina e Canadá, sobretudo no Quebec), África e Ásia.
Devido à semelhança entre estes idiomas e na tentativa de promover e assegurar o plurilinguismo e o multiculturalismo da Europa, foram desenvolvidos, com o apoio da União Europeia, vários projetos interuniversitários:
O conceito que se encontra na base destes projetos é o de intercompreensão.

(cores escuras indicam língua oficial; cores claras, língua de uso comum).
União Latina
Essa organização tinha a finalidade de promover e disseminar a essência comum das línguas românicas. Foi criada em 15 de maio de 1954. As línguas oficiais da união são o português, o francês, o italiano, o romeno, o castelhano e o catalão.
O bloco reunia 35 países, e sua sede permanecia em Paris, França. Seu secretariado também operava neste país.
A União veio à falência e encerrou suas atividades em 2012.
Grau de evolução
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Um estudo de 1949 do linguista Mario Pei, analisando o grau em que sete línguas românicas divergiam do latim vulgar em relação à vocalização do sotaque, produziu as seguintes medidas de divergência (com porcentagens mais altas indicando maior divergência das vogais tônicas do latim vulgar):
O estudo enfatizou, no entanto, que representava apenas "uma demonstração muito elementar, incompleta e provisória" de como métodos estatísticos poderiam medir mudanças linguísticas, atribuiu valores de pontos "francamente arbitrários" a vários tipos de mudanças e não comparou idiomas na amostra com relação a quaisquer características ou formas de divergência além de vogais tônicas, entre outras ressalvas.
O português e o francês possuem a fonética mais distante do latim. Uma das supostas razões pode ser um substrato céltico nestas línguas. O galego, do qual surgiu o português, teria sofrido influência do idioma lusitano, enquanto o francês teria sido influenciado pelo gaulês (além do forte substrato germânico).[carece de fontes]
A língua portuguesa possui considerável léxico celta: "beiço" baikkio, "bura/buraco" buras, "calho/cascalho" caliavo, "tolo" tullon, "bugalho" bullaka, "broa" boruna, "berço" berce, "bilha" viria, "banastra/canastra" benna, "bouça" baudea, "coio" crodios, "menino" menno, "minhoca" mîlo (antigo miloca), "légua" leukā, "berro" bekko, "camisa" camisia, "carro" karro etc. Além disso o português falado em Portugal possui o constante som /ð/ forte, presente nas línguas celtas. Essa causa fonética ainda é estudada, e os indícios são grandes e consideráveis na evolução fonética da língua portuguesa.
Também há os sons delicados /ə/ e /ɨ/ que têm abrangência imensa nessas duas línguas (no caso do português, trata-se do dialeto falado em Portugal).
Classificação
As línguas românicas podem ser classificadas em dois ramos ocidentais e orientais. Por sua vez, o ramo ocidental possui quatro grupos de línguas principais e outros três de transição.
Línguas românicas orientais
- Línguas ítalo-dálmatas: Italiano, corso, siciliano e napolitano.
- Línguas balco-românicas: Romeno, aromeno, megleno-romeno e istro-romeno.
Línguas românicas ocidentais
- Línguas ibero-românicas: Castelhano, português, galego, asturo-leonês e aragonês.
- Línguas galo-românicas: Francês, franco-provençal, valão, normando, picardo, entre outras línguas.
Grupos de transição
- Línguas occitano-românicas: Catalão e occitano, eles fazem uma transição entre as línguas galo-românicas e as ibero-românicas. A classificação alternativa é classificar o occitano como galo-românico e o catalão como ibero-românico ou outra classificação é classificar as duas línguas como galo-românicas ou ibero-românicas.
- Línguas galo-itálicas: Lombardo, ligure, piemontês, emiliano-romanhol e véneto, eles fazem uma transição entre as línguas galo-românicas e as ítalo-românicas. A classificação alternativa é classificá-los como um subgrupo das línguas galo-românicas.
- Línguas reto-românicas: Romanche, friulano e ladino, eles fazem uma transição entre as línguas galo-românicas e as ítalo-românicas. A classificação alternativa é classificá-los como um subgrupo das línguas galo-românicas.
- O Istrioto faz uma transição entre as línguas românicas orientais, as línguas galo-românicas e as italo-românicas. Á classificação alternativa é classificá-la como uma língua italo-românica ou como inclassificável.
Língua Isolada
Inteligibilidade mútua
O Ethnologue cita as seguintes porcentagens como graus de inteligibilidade mútua entre diferentes línguas românicas:
Exemplos para comparar
O artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos em várias línguas neolatinas: